segunda-feira, 30 de março de 2015

A Vinda da Familia Real II - Por Laurentino Gomes


“Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil”

1808 – Laurentino Gomes (A Fuga da Família Real para o Brasil)


Depois de uma exaustiva pesquisa em fontes as mais diversas durante mais de 10 anos, Laurentino Gomes nos brinda com esta narração definitiva sobre a fuga da Família Real Portuguesa para o Brasil, sob a escolta da Marinha Britânica.

Antecedentes

Portugal – uma das nações mais atrasadas da Europa em inícios do século XIX – encontrava-se freqüentemente diante da possibilidade concreta, estimulada e aconselhada por muitos a ter a sede de seu governo transferida para o Brasil, colônia da qual se tornara totalmente dependente. A cada crise no Continente Europeu a idéia se renova, mas somente a partir dos ecos da Revolução Francesa, mais particularmente em seu período Napoleônico, a idéia ganhou força e premência. Com maior vigor a partir de 1801 a idéia freqüentemente era cogitada. No entanto o Príncipe Regente D. João era fraco demais – inclusive fisicamente – medroso demais e indeciso demais para adotar medida de tão graves monta e repercussão.

Os monarcas “perdem a cabeça”

O Rei Jorge III, da Inglaterra, tinha ataques constantes de demência, amplamente relatados: trazia ao colo uma almofada que informava ser uma criança; criou uma “Nova Teoria da Santíssima Trindade” incluindo a si mesmo e a um criado, além de Deus; passava por vezes 3 dias sem dormir, tempo durante o qual passava a maior parte do tempo falando sem parar – e poucos compreendiam bem o que exatamente estava ele a dizer.
Em Portugal, D. Maria I, a Rainha Mãe, informava ver o fantasma de seu pai com freqüência, ensangüentado e clamando vingança; seus gritos – talvez a palavra “urros” expresse melhor o volume em que se expressava durante os ataques de demência – eram tão lancinantes que ela foi recolhida a um convento, declarada demente e seu segundo filho, despreparado para assumir o trono, D. João, foi nomeado Príncipe Regente.
Na França e em outros pontos da Europa reis e rainhas eram decapitados. Como bem o enfatiza Laurentino Gomes, “era um tempo em que os monarcas, literal e metaforicamente, perdiam a cabeça”

Decisão às pressas

Somente quando pressionado pelo avanço das tropas napoleônicas do General Junot, em fins de 1807 e pressionado pela Inglaterra, a decisão foi tomada de maneira tão apressada e atabalhoada que muitos bens dos fugitivos para o Brasil ficaram empilhados no cais: bagagem, livros da Real Biblioteca, prataria saqueada de igrejas, etc. Além disso, as embarcações vieram todas apinhadas de gente, sem os cuidados técnicos necessários a uma tão longa travessia (levaria cerca de 3 meses para atravessar o Atlântico nas rústicas naus da época): pelo menos dois navios sequer conseguiram zarpar e o suprimento dos que zarparam no dia 29 de novembro de 1807 mal eram suficientes para 2 ou 3 semanas. Foi sem dúvida uma fuga apressada e decidida às pressas e, sem a escolta britânica a prover quase tudo o que faltava, a viagem estaria fadada a uma tragédia.
Napoleão Bonaparte – imbatível durante 2 décadas – Gênio Militar e uma Força da Natureza

Travessia conturbada e escala em Salvador

Enfrentando as saunas em que os navios selados da época se transformavam nos Trópicos, com água e refeições racionadas, condições sanitárias precaríssimas, a Corte e seus inúmeros lacaios e bajuladores – de ministros a clérigos e oportunistas com suas numerosas famílias – penou 3 meses de céu e mar. O escorbuto (falta de vitamina C) e outras moléstias ceifaram vidas, uma infestação de piolhos obrigou a todos a raspar a cabeça, uma tormenta provocou um desvio de rota que a muito custo foi retificada – sempre com o apoio logístico da Marinha Britânica – e finalmente, a 22 de janeiro de 1808 os navios aportaram em Salvador.
Um fato curioso é que a princesa Carlota Joaquina, suas filhas e damas da corte desembarcaram com uns turbantes rústicos enrolados na cabeça para disfarçar a calva a que foram reduzidas pela infestação de piolhos. As damas da sociedade soteropolitana consideraram ser aquela uma moda européia e aderiram com tal entusiasmo que até hoje as Baianas usam a indumentária…
A escala em Salvador proporcionou momentos de repouso após viagem tão longa e penosa e, aconselhado pelos seus ministros, D. João decidiu receber autoridades do Norte-Nordeste Brasileiro para as esquisitas cerimônias de “beijão-mão”: filas de fidalgos esperando a vez para oscular as extremidades dos braços do Príncipe Regente – uma constante na vida de D. João, que exigia estas demonstrações de fidelidade e submissão com regularidade enquanto governou. Era preciso fortalecer os vínculos entre as províncias do Brasil colônia que, aos poucos, viria a se transformar numa nação, sede do governo português no exílio.
Um príncipe indeciso, medroso, fraco que, no entanto, enganou Napoleão…

A chegada ao Rio de Janeiro

No dia 7 de março de 1808 a esquadra de D. João chega à Baía de Guanabara, mas o desembarque ocorre somente no dia seguinte. Os puxa-sacos que sempre cercam esse tipo de acontecimento no Brasil prepararam uma recepção retumbante, com muitos tiros de canhão, fogos de artifício e festas populares para saudar “a chegada do primeiro monarca Europeu a terras americanas”.
Portugal foi saqueada pelos fugitivos de Napoleão antes de embarcar para o Brasil, mas mesmo assim os recursos eram insuficientes para sustentar uma das maiores cortes que qualquer monarca da época ousava manter em torno de si. Todos dependentes dos cofres governamentais e sequiosos de um enriquecimento rápido por aqui para uma volta a Portugal à primeira oportunidade.
Casas foram requisitadas pela coroa portuguesa que nelas colava cartazes com as iniciais P.R. (casa requisitada pelo Príncipe Regente) que a irreverência carioca rapidamente entendeu como “Ponha-se na Rua!” Os impostos foram aumentados a níveis até então inusitados; nada comparável aos 40% que os brasileiros pagam hoje para os mensaleiros e sanguessugas e portadores de cartões corporativos de Lula da Silva, mas uma taxação severa para a época e, tal qual hoje, todos desconfiavam que os impostos não seriam empregados para o bem público e sim para o benefício privado dos dependentes do governo.
Um príncipe frouxo e uma princesa irascível: uma união com tudo para jamais dar certo…

Medidas progressistas

Uma vez que a sede do governo português situava-se no Rio de Janeiro, foram necessárias algumas medidas – muitas das quais adrede acertadas com a Inglaterra pela “cortesia” da escolta – progressistas para a época, como a Abertura dos Portos às Nações Amigas, decreto Régio de 28 de janeiro de 2008. “Nações Amigas” eram basicamente Portugal e a Inglaterra. Pelo acordo acertado com antecedência, o Brasil seria o principal escoadouro do excedente comercial britânico e a Inglaterra contava com benefícios alfandegários ainda superiores aos dos portugueses. Em pouco tempo os cais brasileiros estavam atulhados de coisa absolutamente inúteis para nosso clima tropical: patins para gelo, aquecedores de colchões e outras bugigangas caríssimas que muitos acabavam empregando em outras finalidades – um viajante da época informa que percebeu uma maçaneta de uma casa modesta modelada a partir de um patim para gelo, por exemplo…
Foi necessário ainda criar um órgão para cunhar a moeda que circularia por aqui: o Banco do Brasil. Como foi criado na base do compadrio e muita corrupção, teve vida efêmera. Em 1820 teve seus cofres saqueados pela Família Real de volta para Portugal, faliu e acabou sendo liquidado em 1829. Somente em 1835, já no governo de D. Pedro II o Banco do Brasil foi recriado.

Hábitos esquisitos

Havia as esquisitíssimas e regulares cerimônias de beija-mão, acima relatadas.
D. João VI era gordo, flácido e devorador voraz de franguinhos que trazia fritos e desossados nos bolsos de seus uniformes sempre sujos e engordurados. Não conseguia caminhar a pé mais de alguns metros sem sentir extrema fadiga e era, na mais completa acepção do termo, um dos homens mais fracos que já governaram esta nação, mas, surpreendentemente, logrou ser o único a enganar Napoleão Bonaparte e realizou um governo medianamente satisfatório.
Uma vez encontrar-se já em situação de separação definitiva de corpos da princesa Carlota Joaquina, o Autor Tobias Monteiro, apontado por Gomes na obra hora em análise, informa que D. João mantinha relações homossexuais “de conveniência”, particularmente com um de seus camareiros, Francisco Rufino de Souza Lobato cuja função primordial era masturbar o príncipe com regularidade, atividade pela qual Rufino foi recompensado regiamente: recebeu títulos, pensões portentosas e promoções sucessivas.
Numerosas salvas de canhão eram ordenadas a cada entrada de navio na Baía de Guanabara. Um estadunidense surpreso comenta o quanto os portugueses gostavam de gastar sua pólvora, a ponto de se ouvir o troar dos canhões à entrada da Baía ao longo de todos os dias.
Sem esgoto sanitário o lixo era invariavelmente jogado às ruas pelas janelas e, não raro, um passante recebia o “batismo” de dejetos humanos. Classes mais abastadas contavam com escravos encarregados de levar seus dejetos acumulados para despejar na Baía de Guanabara. Ficavam conhecidos como “carijós” pois quando o ácido de urina misturada com fezes caía sobre suas costas deixava em suas peles negras algumas manchas brancas.

Imprensa

Enquanto a Europa se encaminhava a passos largos para a ampliação dos Direitos da Pessoa Humana e do Cidadão, o Brasil recebia um dos mais atrasados representantes do Antigo Regime…
Como a oposição ao governo era um crime gravíssimo, o único jornal com alguns eivores críticos que, mais tarde, contudo, precisou ceder ao governo português, era o Correio Braziliense, que Hipólito da Costa editava em Londres.

Legado

Com todas as fraquezas, todo o medo e covardia, além de toda a corrupção que cercou a fuga da Família Real para o Brasil, devemos o princípio de nossa emancipação política (vulgarmente conhecida como “Independência”) a este episódio, a esta travessia de 1808.
Através de brutais repressões e da concentração autocrática o Brasil – ex-colônia portuguesa – manteve sua integridade territorial, lingüística e, em alguns aspectos “cultural”, ao contrário do Império Colonial Espanhol que se fragmentou em dezenas de Nações distintas.
Quando as cortes em Portugal, já livres de Napoleão Bonaparte e de seus “protetores” ingleses exigiram a volta da Família Real para o Continente além do juramento a uma constituição com alguns lustros de republicanismo, D. João VI – já então na posição de Monarca Português após o falecimento de D. Maria I, “a louca” – deixou o Brasil a cargo de seu filho D. Pedro com a recomendação de, em caso de revolta ou tentativas mais autonomizantes que o desejavam as cortes portuguesas, D. Pedro tomasse a coroa “antes que algum aventureiro o fizesse”. Assim, o Brasil simplesmente passou de pai para filho sem grandes azedumes em 1822. Por incrível que pareça – se é que a palavra “incrível” pode se aplicar a alguma situação no Brasil – os únicos problemas armados envolvendo o episódio conhecido como “Independência”, o 7 de setembro de 1822, quando D. Pedro rompeu com as cortes portuguesas, foram de alguns portugueses e brasileiros nativos que se rebelaram contra a autonomia desejosos de continuar mamando nas tetas de Portugal. Estes foram repelidos, novamente, com a ajuda de mercenários ingleses contratados pois nossa Marinha estava ainda em projeto…
De mais a mais, como Portugal devia 2 milhões de libras esterlinas à Inglaterra, para reconhecer a autoridade de D. Pedro I sobre o Brasil a ex-metrópole exigiu o repasse da dívida para a nova Nação Brasileira, dando o pontapé inicial em nossa interminável dívida externa – que hoje Lula da Silva “internalizou”: em 2008 devemos mais de 1 Trilhão e 400 Bilhões de Reais “internamente” a empresas como o Grupo Santander, o Citibank, a Monsanto – fabricante do desfolhante “Agente Laranja” -, a IBM – fabricante das máquinas gravadoras de números nos braços dos judeus nos campos de concentração nazistas -, a Ford, a Chrysler… Nossa dívida foi deixando de ser considerada “externa” mas avolumou-se de maneira descontrolada e nossos credores “brasileiros” têm suas matrizes bem longe daqui. Como diz na paródia de nosso hino (também conhecido como “ouvirundum ou “nó suíno”): “o sol da liberdade em raios fugidios brilhou em outra pátria muito distante!”
1808 – Laurentino Gomes (A Fuga da Família Real para o Brasil)
416 páginas – Ed. Planeta

A Vinda e Presença da Família Real no Brasil


Imaginem que, num dia qualquer, os brasileiros acordassem com a notícia de que o presidente da República havia fugido para Austrália, sob a proteção de aviões da Força Aérea dos Estados Unidos. Com ele, teriam partido, sem aviso prévio, todos os ministros, os integrantes dos tribunais superiores de Justiça, os deputados e senadores e alguns dos maiores líderes empresariais. E mais: a esta altura, tropas da Argentina já estariam marchando sobre Uberlândia, no Triângulo Mineiro, a caminho de Brasília. Abandonado pelo governo e todos os seus dirigentes, o Brasil estaria à mercê dos invasores, dispostos a saquear toda e qualquer propriedade que encontrassem pela frente e assume o controle do país por tempo indeterminado.

Provavelmente, a primeira sensação dos brasileiros diante de uma notícia tão inesperada seria de desamparo e de traição. Depois, de medo e revolta.
Livro que narra a presença da
 Família
Real no Brasil
E foi assim que os portugueses reagiram na manhã de 29 de novembro de 1807, quando circulou a informação de que a rainha, o príncipe regente e toda a corte estavam fugindo para o Brasil sob a proteção da Marinha britânica. Nunca algo semelhante tinha acontecido na história de qualquer outro país europeu. Em tempos de guerra, reis e rainhas haviam sido destronados ou obrigados a se refugiar em territórios alheios, mas nenhum deles tinha ido tão longe a ponto de cruzar um oceano para viver e reinar do outro lado do mundo. Embora os europeus dominassem colônias imensas em diversos continentes, até aquele momento nenhum rei havia colocado os pés em seus territórios ultramarinos para uma simples visita - muito menos para ali morar e governar. Era, portanto, um acontecimento sem precedentes tanto para os portugueses, que se achavam na condição de órfãos de sua monarquia da noite para o dia, como para os brasileiros,habituados até então a ser tratados como uma simples colônia extrativista de Portugal.
Assim começa o livro do jornalista e escritor Laurentino Gomes chamado 1808 que trata da presença da família real no Brasil.

Vinda da Família Real ao Brasil - Introdução

Ocorreram muitas revoltas pela separação do Brasil de Portugal, aqui neste blog destacamos duas mas outras mais aconteceram nas quais muitos brasileiros perderam a vida.
Os que morrem achavam que valia a pena sacrificar-se para melhorar a situação do povo brasileiro. Queriam uma vida melhor, não só para eles, mas para todos os brasileiros.
Mas a independencia de fato  só aconteceu em 1822. E não foi uma separação, digamos radical ou total, como aconteceu em outros países da América Latina que, ao proclamaem suas idependencias, tornaram-se repúblicas governadas por pessoas nascidas no país libertado. O Brasil independente continuou sendo uma monarquia, e seu primeiro imperador, Dom Pedro I, era português, filho do rei de portugal e herdeiro do trono português.
Historicamente, o processo da Independência do Brasil se inicou em 1808 com a vida da família real e somado a politica de D. João VI no Brasil e após 1820 com a política das Cortes Portuguesas tentando recolonizar o Brasil.

A vinda para o Brasil

No início do século XIX Napoleão Bonaparte era imperador da França. Ele com a politica de levar os valores da Revolução Francesa e tornar a burguesia Francesa hegemônica na Europa Ele queria invadiu e derrotou os exércitos de vários países. Mas não conseguiu vencer a marinha inglesa.
Não conseguindo derrotar militarmente e Inglaterra Napoleão tenta derrota-la economicamente promovendo um embargo econômico a Inglaterra proibindo que países europeus tivessem relações comerciais com ela. Era o Bloqueio Continental.
Nessa época, Portugal era governado pelo príncipe regente Dom João. E nossa metrópole não estava bem; a Rainha, Maria I, estava afastada no trono devido a distúrbios mentais (a famosa Maria a louca) e seu filho o futuro D. João VI não era capacitado para governar. Somado a tudo isso Portugal estava prejudicado pelo tratado dos “panos e vinhos” que o deixou dependente da Inglaterra chegando inclusive a assinar um “acordo” com os ingleses em que caso numa futura guerra contra os franceses os portugueses se aliariam com a Inglaterra. Dom João então estava numa situação muito difícil: se fizesse o que Napoleão queria, os ingleses invadiriam o Brasil, pois estavam muito interessados no comércio brasileiro; se não o fizesse, os franceses invadiriam Portugal como já tinha feito com a vizinha Espanha.
A solução que Dom João encontrou, com a ajuda dos aliados ingleses, foi transferir a corte portuguesa para o Brasil.
A economia portuguesa havia muito encontrava-se subordinada à inglesa. Daí à relutância de Portugal em aderir incondicionalmente ao bloqueio. Napoleão resolveu o impasse ordenado a invasão do pequeno reino ibérico. Sem chances de resistir ao ataque, a família real transferiu-se para o Brasil em 1808, sob proteção inglesa. Começou então, no Brasil, o processo que iria desembocar, finalmente, na sua emancipação política.
Sem poder responder negativa ou positivamente ao ultramatum francês por ocasião do Bloqueio Continental, a situação de Portugal refletia com toda a clareza a impossibilidade de manter o status quo. Pressionada por Napoleão, mas incapaz de lhe opor resistência britânica, a Corte portuguesa estava hesitante. Qualquer opção significaria, no mínimo, o desmoronamento do sistema colonial ou do que ele ainda restava. A própria soberania encontrava-se ameaçada, sem que fosse possível vislumbrar uma solução aceitável. Nesse contexto, destacou-se o papel desempenhado por Strangford, que, como representante diplomático inglês, soube impor, sem vacilação, o ponto de vista da Coroa britânica.
Para corte de Lisboa colocou-se a seguinte situação: permanecer em Portugal e sucumbir ao domínio napoleônico ou retirar-se para o Brasil. Esta última foi a solução defendida pela Inglaterra.
Em novembro de 1807 Dom João com toda a sua família e sua corte partiram para o Brasil sob a escolta da esquadra inglesa. 15 mil pessoas vieram para o Brasil em quatorze navios trazendo suas riquezas, documentos, bibliotecas, coleções de arte e tudo que poderam trazer.
Quando o exército de Napoleão chegou em Lisboa, só encontrou um reino abandonado e pobre.

Beneficios para o Brasil-Interno

Cultura

Além das mudanças comerciais, a chegada da família real ao Brasil também causou um reboliço cultural e educacional. Nessa época, foram criadas escolas como a Academia Real Militar, a Academia da Marinha, a Escola de Comércio, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, a Academia de belas-artes e dois Colégios de Medicina e Cirurgia, um no Rio de Janeiro e outro em Salvador. Foram fundados o Museu Nacional, o Observatório Astronômico e a Biblioteca Real, cujo acervo era composto por muitos livros e documentos trazidos de Portugal. Também foi inaugurado o Real Teatro de São João e o Jardim Botânico. 
Fac-simile da Gazeta do RJ
Uma atitude muito importante de dom João foi a criação da Imprensa Régia. Ela editou obras de vários escritores e traduções de obras científicas. Foi um período de grande progresso e desenvolvimento.
O Teatro de São João inaugurado em 1818. 1º número de A Gazeta do Rio de Janeiro.

Política

Uma ou talvez a primeira medida tomada por D. João foi a Abertura dos Portos as Nações Amigas em que podíamos agora ter relações comerciais com toda e qualquer nação européia desde que seja aliada de Portugal. Em tempos de guerra tal decreto tem dois sentidos: Fim do Pacto Colonial e obviamente um favorecimento a Inglaterra. 
Com a instalação da corte no Brasil, o Rio de Janeiro tornou-se a sede do império português e Dom João teve de organizar toda a administração brasileira.
Decreto da Abertura dos
Portos de 1808
Criou três ministérios: o da Guerra e Estrangeiros, o da Marinha e o da Fazenda e Interior; instalou também os serviços auxiliares e indispensáveis ao funcionamento do governo, entre os quais o Banco do Brasil, a Casa da Moeda, a Junta Geral do Comércio e a Casa da Suplicação ( Supremo Tribunal).
A 17 de dezembro de 1815 o Brasil foi elevado a reino e as capitanias passaram em 1821 a chamar-se províncias.
Em 1818 com a morte da rainha D. Maria I, a quem Dom João substituía, deu-se no Rio de Janeiro a proclamação e a coroação do Príncipe Regente, que recebeu o título de Dom João VI. A aclamação de D. João VI deu-se nos salões do Teatro de São João.

Economia

Depois da chegada da família real duas medidas de Dom João deram rápido impulso à economia brasileira: a abertura dos portos e a permissão de montar indústrias que haviam sido proibidas por Portugal anteriormente.
Abriram-se fábricas, manufaturas de tecidos começaram a surgir, mas não progrediram por causa da concorrência dos tecidos ingleses.
Bom resultado teve, porém, a produção de ferro com a criação da Usina de Ipanema nas províncias de São Paulo e Minas Gerais.
Outras medidas de Dom João estimularam as atividades econômicas do Brasil como:
  • Construção de estradas;
  • Os portos foram melhorados. Foram introduzidos no país novas espécies vegetais, como o chá;
  • Promoveu a vinda de colonos europeus.
A produção agrícola voltou a crescer. O açúcar e do algodão, passaram a ser primeiro e segundo lugar nas exportações, no início do século XIX. Neste período surgiu o café, novo produto, que logo passou do terceiro lugar para o primeiro lugar nas exportações brasileira.
Usina de ferro de Ipanema.

As Vantagens para o Rio de Janeiro com vinda da família real  

No Rio de Janeiro a corte tratou de reorganizar o Estado, com a nomeação dos ministros. Assim, foram sendo recriados todos os órgãos do Estado português: os ministérios do Reino, da Marinha e Ultramar, da Guerra e Estrangeiros e o Real Erário, que, em 1821, mudou o nome para Ministério da Fazenda. Também foram recriados os órgãos da administração e da justiça: Conselho de Estado, Desembargo do Paço, Meda da Consciência e Ordens, Conselho Supremo Militar.
Dessa maneira, peça por peça, o Estado português renasceu no Brasil.
Durante o período que D. João permaneceu no Brasil, foram tomadas algumas medidas, que trouxeram progresso para o país.
Foram criados, nesse período:
o Banco do Brasil em 12 de outubro de 1808, para servir de instrumento financeiro do Tesouro Real, embora a sua finalidade declarada fosse a de atuar como instituição creditícia dos setores produtivos - comércio, indústria e agricultura;
  • a Academia de Belas-Artes;
  • a Casa da Moeda;
  • a fábrica de pólvora;
  • o arsenal da Marinha.
Deu-se também a elevação do Brasil à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarve, em 1815.
Com isso as capitanias passaram a se denominar províncias.
Cerimonia do Beija Mão
Pessoas iam até o palácio beijar a mão de D. João e aproveitam para fazer "pedidos"
Apesar do progresso que houve com a vinda da família real, a administração de D. João VI não melhorou a vida dos colonos. A corte gastava muito, foram criados cargos inúteis para empregar fidalgos ( "filhos de algo") portugueses, e o governo começou a cobrar impostos.

A volta da família real a lisboa

Desde 1807, quando a Família Real se transferiu para Brasil, Portugal sofria os efeitos de uma grave crise econômico-financeira, que já era crônica desde o século XVIII. A burguesia mercantil, ressentida com a perda do monopólio colonial, não tinha como resistir à esmagadora concorrência britânica; faltavam gêneros de primeira necessidade,
os preços disparavam e a moeda se desva­lorizava. Além da crise, crescia no reino o descontentamento com a ditadura do marechal Beresford, o regente inglês que governava com plenos poderes, enquanto o rei permanecia no Brasil.
Com isso, o espírito liberal revolucionário começou a ganhar corpo. Em 1818, na cidade do Porto, foi criado o Sinédrio, uma associação de liberais composta de intelectuais, militares e burocratas, que, sob a liderança de Manuel Fernandes Tomás, pregava a expulsão dos ingleses e o retomo de D. João VI a Portugal, devidamente limitado por uma constituição.

O movimento revolucionário de 1820

A Revolução Liberal portuguesa começou no Porto em 24 de agosto de 1820 , aproveitando a ausência do marechal Beresford, que havia viajado para o Brasil para se avistar com D. João VI. Contando com total adesão das tropas e do povo, os rebeldes
vitoriosos conseguiram a adesão de Lisboa, a capital do reino, onde foi instalada a Junta Provisional do Conselho do Reino, cujos compro­missos eram o exercício do governo em nome do rei e a preparação dos trabalhos constituintes. Assim, o absolu­tismo estava abolido e a regência de Beresford deposta.
Em dezembro do mesmo ano, processaram-se as eleições para as Cortes Constituintes, órgão supremo da revolução, que estabeleceu uma regência de cinco mem­bros e iniciou os trabalhos de elaboração da Constituição. Em março de 1821, foi aprovada a primeira constituição portuguesa, proclamada à nação e jurada pelo rei, já em Portugal, no mês de setembro do mesmo ano.

As repercussões da revolução no Brasil

Enquanto não se evidenciou o seu caráter recolonizador, a Revolução do Porto teve amplo apoio dos segmentos sociais brasileiros. Afinal, como parte do Reino Unido, o Brasil certamente seria o grande beneficiado com o liberalismo do novo governo revolucionário. Parte dos comerciantes, militares e funcionários portugueses juntou-se aos liberais brasileiros (intelectuais e elementos das camadas médias), exigindo de D. João VI o cumprimento das decisões das Cortes. Em 26 de fevereiro de 1821, milhares de manifestantes ocuparam o Largo do Rossio (atual Praça Tiradentes), exigindo do rei o juramento da Constituição, que ainda nem tinha sido promulgada pelas Cortes. Prudentemente, D. João VI fez um pronunciamento, considerado o juramento prévio dessa Constituição, reconhecendo, publicamente, o fim do regime absolutista.
Em abril do mesmo ano, às vésperas de sua partida para Portugal, as lideranças radicais insuflaram o povo para exigir, desta feita, que o rei jurasse uma cópia da Constituição espanhola, uma vez que a portuguesa ainda não havia chegado ao Brasil. O clima, aparentemente, era de entendimento e fraternidade, uma vez que as Cortes convocaram eleições gerais para a escolha dos deputados brasileiros que deveriam participar de sua composição. Com a volta de D. João VI para Portugal, esse quadro seria totalmente alterado.

A REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE 1817

Nem tudo foi flores durante a estada da da Família Real Portuguesa em 1808. Os atos de D. João VI levou a uma serie de trasformações que determinaram maior liberdade econômica às elites agroexportadoras do país mas essas regalias também vieram acompanhaas da elevação de impostos para o financiamento da estadia da família real no Brasil e os comerciantes portugueses foram notadamente beneficiados com regalias que ampliavam os lucros da chamada “nobreza da terra”.
Tais medidas chegaram à região de Pernambuco no momento em que os Nordeste sofria com um periodo de seca e crise econômica com a flutuação do açúcar e do algodão no mercado internacional. Devido essa dificuldade econômica, grande parte da população tinha grande dificuldade para pagar os impostos estabelecidos pela Coroa Portuguesa. Mas os ideais de liberdade e igualdade do iluminismo rondavam alguns quadros da elite intelectual da época e não estavam longe de Pernambuco.
Nesse contexto de tantas insatisfações e problemas, os proprietários de terra e outros brancos livres pobres e padres do seminário de Olinda organizaram o movimento que eclodiu em março de 1817.
Cartaz comemorativo ao movimento de 1817
Após derrotarem as tropas defensoras de Portugal, os revoltosos formaram um governo provisório composto por cinco membros. Além disso, estabeleceram a formação de um grupo de emissários que difundiriam o movimento em outras capitanias do Brasil e algumas nações europeias.
Julgamento dos implicados na Revolução de 1817
Em pé ao centro esta o Potiguar Frei Miguelinho um
dos líderes do movimento
Logo que soube do ocorrido, o governo português organizou tropas na Bahia e no Rio de Janeiro com o objetivo de abafar o levante. Enquanto as tropas terrestres tomavam as regiões do interior, a cidade do Recife foi cercada por embarcações que interromperam a comunicação da capitania com outras regiões. Os lideres acabaram sendo presos e executados. Dessa forma, o governo lusitano preservava a sua hegemonia política através da força das armas.

Esta questão caiu no ENEM de 2010 e tratava da Presença da Familia Real. Procure responder e se necessário leia novamente a aula aqui postada ou mesmo outras fontes.




Questão 25:
Em 2008 foram comemorados os 200 anos da mudança da família real portuguesa para o Brasil, onde foi instalada a sede do reino. Uma sequência de eventos importantes ocorreu no período 1808-1821, durante os 13 anos em que D. João VI e a família real portuguesa permaneceram no Brasil.
Entre esses eventos, destacam-se os seguintes:
Bahia – 1808: Parada do navio que trazia a família real portuguesa para o Brasil, sob a proteção da marinha britânica, fugindo de um possível ataque de Napoleão.
Rio de Janeiro – 1808: desembarque da família real portuguesa na cidade onde residiriam durante sua permanência no Brasil.
Salvador – 1810: D. João VI assina a carta régia de abertura dos portos ao comércio de todas as nações amigas, ato antecipadamente negociado com a Inglaterra em troca da escolta dada à esquadra portuguesa.
Rio de Janeiro – 1816: D. João VI torna-se rei do Brasil e de Portugal, devido à morte de sua mãe, D. Maria I.
Pernambuco – 1817: As tropas de D. João VI sufocam a revolução republicana.
GOMES. L. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Editora Planeta, 2007 (adaptado)
Uma das consequências desses eventos foi
a) a decadência do império britânico, em razão do contrabando de produtos ingleses através dos portos brasileiros.b) o fim do comércio de escravos no Brasil, porque a Inglaterra decretara, em 1806, a proibição do tráfico de escravos em seus domínios.c) a conquista da região do rio da Prata em represália à aliança entre a Espanha e a França de Napoleão.d) a abertura de estradas, que permitiu o rompimento do isolamento que vigorava entre as províncias do país, o que dificultava a comunicação antes de 1808.e) o grande desenvolvimento econômico de Portugal após a vinda de D. João VI para o Brasil, uma vez que cessaram as despesas de manutenção do rei e de sua família.


Resposta: C
Habilidade: Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
Comentários: Esta questão se não bem analisada pode virar uma pegadinha que é a dor de cabeça dos candidatos do ENEM  Isto por causa de um pequeno erro na criação do enunciado. O certo poderia ser: “Outro evento relacionado à Vinda da Família Real foi”. Não há uma relação ou nexo causal entre os fatos mencionados e a resposta mas a aluno poderia usar como artifício a eliminação das informações absurdas do ponto de vista histórico e chegar a questão correta. É o tipo de questão em que o texto mais "enfeita" a questão do que contextualiza a questão.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Baixa Idade Média - Renascimento Comercial e Urbano

O Renascimento Comercial e Urbano


Chama-se de Renascimento comercial a um dos aspectos vividos na Europa com o fim da invasões e de uma relativa paz proporcionando uma importância das cidades e das praticas comerciais próprias da vida urbana

Durante a Idade Média (476-1453) a grande parte da população morava em Feudos (que eram grandes áreas cercadas e isoladas uma das outras, com uma economia quase autossuficiente) dai, percebemos neste período a economia ser estagnada e dai, costuma-se dizer que o comércio de produtos praticamente desapareceu no período medieval.

Mas, com o avanço dos estudos desse período tal afirmação não é de fato real e temos que relativizar esse pensamento. Vemos que durante o feudalismo continuaram a existir profissionais como os artesãos (ferreiros e construtores de máquinas, por exemplo), comerciantes e negociantes. Os homens do medievo  não deixaram de adquirir certos equipamentos fundamentais à prática da agricultura (como enxadas e arados), que eram, portanto, fabricados e comercializados. Mesmo sendo o comercio bastante restrito devido a a Europa ser “separada” por feudos e ameaçada por invasões e guerras isso não significa que elas tenham desaparecido.

O período de auge do feudalismo foi o que se costuma chamar de Alta Idade Média (séculos 5 a 10). Mas, a partir do século 10, as coisas começaram a mudar. Diversos fatores ajudam a explicar por que a agricultura deixara de ser a principal atividade econômica, abrindo espaço para o chamado Renascimento comercial, que, a partir do século 11, inaugurou definitivamente a Baixa Idade Média, que se estenderia até o século 15.


Crescimento populacional

A Europa vivia em meados do século 10 uma relativa época de paz, já que os ataques de um reino a outro haviam diminuído bastante. Essa paz levou a a uma aumento populacional considerável: em 300 anos a população da Europa cresceu de 8 milhões para 26 milhões de habitantes. Isso gerou um excedente populacional, que começou a necessitar de mais espaço e a expandir-se para fora dos feudos.
 
Anteriormente, devido a ser itinerantes, comerciantes, negociantes e artesãos começaram a se estabelecer próximo a feudos formando vilas e burgos. Dessa forma, aqueles que moravam nessas localidades eram conhecidos como burgueses e, ao longo dos séculos, essa denominação passou a denominar os comerciantes e os homens ricos.

Com o aumento demográfico na Europa e a expulsão do excedente populacional, fugas de servos devido a imposição dos impostos feudais os burgos começaram a crescer Isso se dava porque muitos servos acabavam por fugir dos feudos para escapar das imposições da relação servil. Assim, essas pequenas localidades começaram a crescer e se tornar importantes concentrações de trabalhadores livres e comerciantes, onde passaram a ser organizadas feiras permanentes, o que resultou no surgimento de inúmeras cidades.

O renascimento das cidades

O Renascimento Urbano se deu justamente devido ao fato de que antes a população se concentrava em feudos onde a população se dedicava as atividades rurais, mas com o crescimento das cidades elas voltaram a se tornar importantes núcleos econômicos e isto acarretou o a diminuição da importância dos feudos e por extensão dos vínculos feudais. Tal situação levou os moradores das cidades a negociar com os senhores o fim do pagamento de tributos e serviços, através da compra da chamada carta de franquia.

Essa importância das cidades levou a uma maior liberdade econômica e política e econômica foi propiciando o aprimoramento do trabalho urbano. Surgem assim as Guidas e as Corporações de Oficio que eram entidades organizadas de artesãos que iam além do limite das cidades. Essas. Por exemplo, uma corporação de sapateiros ditava as normas de fabricação de seus produtos e as formas de sua comercialização, a fim de proteger esses profissionais no mercado e propiciar seu lucro.




Desenvolvimento da agricultura

Ainda que tenha favorecido principalmente o comércio, essa expansão espacial pelo continente europeu foi estimulada até pelos nobres feudal. Os donos dos feudos viam seus campos serem esgotados pela exploração contínua e tinham interesse em expandir suas riquezas territoriais. Assim, incentivavam a ocupação de outras áreas por seus servos, que através de outras formas de cultivo (como a utilização rotativa do solo) e do uso de um tipo de arado mais resistente, conseguiram expandir também a produção agrícola, num processo chamado de "Renascimento agrícola".

Imagem retratando as Cruzadas
Houve, por sua vez, um outro fator que caminhou paralelamente a esse novo comércio europeu e foi, ao mesmo tempo, o que contribui para que ele se expandisse mais: as Cruzadas. A Igreja católica, aproveitando-se da legião de homens desocupados nos centros urbanos, começou a realizar expedições para além dos limites continentais, dando um outro sentido para a economia medieval.Sobre Esse movimento denominado de Cruzadas veremos logo mais em outra aula mas ainda no assunto Baixa Idade Média

Com a justificativa de conquistar povos para a fé cristã e ao mesmo tempo reconquistar territórios de outros povos, nasceram as Cruzadas, expedições militares e religiosas que foram praticadas durante quase 200 anos, entre os séculos 11 e 13. Foram realizadas oito dessas expedições nesse período, que atravessaram o continente europeu, cruzaram mares e chegaram a outros continentes. Isso fez com as rotas comerciais acompanhassem esse traçado aberto pela cruz e pela espada.




1. (Fgvrj 2013) A partir do século X, mas principalmente do XI, é o grande período de urbanização – prefiro utilizar esse termo mais do que o de renascimento urbano, já que penso que, salvo exceção, não há continuidade entre a Idade Média e a Antiguidade. 
LE GOFF, Jacques. Por amor às cidades. Conversações com Jean Lebrun. São Paulo: Unesp, 1998, p. 16. 

respeito das cidades medievais, após o ano mil, é CORRETO afirmar:
a) Tornaram-se centros econômicos e financeiros e vinculados às rotas mercantis e à produção agrária das áreas rurais próximas.
b) Eram fundamentalmente sedes episcopais e centros administrativos do Sacro Império Romano Germânico.
c) Tornaram-se núcleos da produção industrial que começou a desenvolver-se sobretudo no norte da Itália, a partir do século XI.
d) Tornaram-se os principais entrepostos do comércio de escravos africanos desde o início das Cruzadas.
e) Apresentaram-se como legado das póleis gregas e das cidades romanas da Antiguidade

2. (Uftm 2012) [...] para satisfazer as faltas e necessidades dos da fortaleza, começaram a afluir diante da porta, junto da saída do castelo, negociantes, [...] mercadores de artigos custosos, em seguida taberneiros, depois hospedeiros para a alimentação e albergue dos que mantinham negócios com o senhor [...]. Os habitantes de tal maneira se agarraram ao local que em breve aí nasceu uma cidade importante. 
(Jean Lelong, cronista do século XIII, apud Fernanda Espinosa. Antologia de textos históricos medievais, 1972.)
O texto refere-se
a) às transformações ocorridas na Europa Ocidental a partir do século XI, quando as atividades comerciais intensificaram-se.
b) ao processo de criação das corporações de ofícios, com suas regras e rituais específicos para cada profissão.
c) à crescente insegurança que marcou o período medieval, razão pela qual se procurava viver em torno de fortificações.
d) à baixa produção dos feudos, que dependiam de fornecedores externos para assegurar a sobrevivência de seus moradores.
e) às lutas entre senhores feudais e senhores urbanos pelo controle da produção agrícola, principal fonte de impostos.

  
3. (Upe 2011) Na Baixa Idade Média (séculos X-XV), a sociedade feudal europeia assistiu a mudanças em sua estruturação e dinâmica de funcionamento que foram essenciais para a construção do mundo moderno. Sendo assim, é correto afirmar que, neste período,
a) a burguesia surge e começa a atuar predominantemente, no contexto social dos incipientes centros urbanos feudais.
b) a igreja católica assiste a uma redução drástica do seu poder no contexto sócio-político mais amplo com a eclosão da Reforma Protestante.
c) o poder régio nas monarquias feudais, em especial na França e Inglaterra, passa a restringir a atuação da burguesia por meio de medidas de repressão fiscal.
d) há uma expansão do modelo agrário feudal na economia europeia de então, com a diminuição dos centros urbanos.
e) as cidades feudais passam a sofrer com guerras locais ligadas aos conflitos religiosos entre os cristãos e os judeus, em especial na Península Ibérica.

GABARITO COMENTADO

Resposta da questão 1: [A]
A partir da Baixa Idade Média, o crescimento das cidades esteve articulado à reativação do comércio. O aumento populacional e a consequente crise do sistema feudal, somados às Cruzadas, tornaram as cidades importantes centros mercantis e bancários, nos quais eram efetuadas as trocas de mercadorias que circulavam pelas rotas comerciais e também o excedente da produção agrícola. Essa reativação da atividade mercantil levou também a uma reativação das práticas monetárias, dando aos bancos um papel importante nesse novo perfil econômico que a Europa passava a viver

Resposta da questão 2:[A] 
A partir do século XI, tem início um período de paz, tranquilidade e expansão de diversos setores da vida na Europa Ocidental, graças ao fim das invasões, à melhoria das técnicas agrícolas e à ausência de catástrofes climáticas e epidemias. Nesse contexto, houve um aumento da produção agrícola, um importante crescimento demográfico, uma retomada das atividades comerciais, o crescimento das cidades e o surgimento da burguesia.


Resposta da questão 3: [A]
A baixa Idade Média é caracterizada por um conjunto de mudanças nas estruturas tradicionais do feudalismo. Época de renascimento comercial e urbano, onde novas atividades se desenvolvem, principalmente, com a reabertura do Mar Mediterrâneo, permitindo o surgimento de uma camada de mercadores que, por viverem nos burgos, foram denominados como “burgueses”.